Lenço com estampa de OSGEMEOS para Louis Vuitton. foto © OSGEMEOS
O mercado de luxo tenta se aproximar da arte urbana há muito tempo. Perfumes, maquiagem, bolsas, roupas, tênis, e outros itens já tiveram designs, intervenções, customizações, e criações realizadas por artistas. Kaws, Futura, Retna, e muitos outros nomes conhecidos já assinaram produtos.
De graffitis em um “reality” show a lenços de seda, haverá sempre quem critique artistas que tiveram seu início pintando em muros e que depois tiveram seu trabalho reconhecido e remunerado.
Rolaram criticas. Faz parte. Artistas precisam de dinheiro para sobreviver, como qualquer outra pessoa.
Quem os critica por vender telas em galerias ou realizar parcerias com marcas não vive de arte ou tem outra fonte de renda.
O mais recente capítulo desta história seria apenas mais do mesmo se não fosse uma parceria dos artistas de rua brasileiros mais reconhecidos mundialmente, OSGEMEOS, com uma das marcas mais criticadas por artistas de rua, a Louis Vuitton.
A marca é um símbolo mundial do luxo e o monograma LV é uma das marcas mais valiosas do mundo. Com o grande número de falsificações e “réplicas” é natural que tentem proteger sua propriedade intelectual. Porém, também é natural que a associação com luxo, riqueza, e status tornem a marca um alvo frequente de críticas ao luxo e consumo. Diversos artistas já usaram a marca como forma de crítica, ironia, ou comentário social.
Em São Paulo, o mais notório foi OZI, artista old school em atividade desde 1985 e que espalhou alguns porcos com o monograma e o nome “Luis Vitão”. Pressão e intimidação jurídica da marca fizeram o porco virar um viral cult e sumir, mas ainda é possível encontrar imagens do Luis Vitão em alguns sites [+].
Performance do artista francês ZEVS em São Paulo com Marina Dias. foto © LOST ART
Em Hong Kong, New York, São Paulo, e outros lugares, a marca foi utilizada por artistas como Zevs que pintou telas com o monograma “liquidado” e fez performances como “Victim” em São Paulo, onde o monograma também apareceu.
“Liquidated Louis Vuitton Murakami Multico”. Performance no Cabaret Voltaire, Zurich, 2011 por ZEVS.
É curioso que a marca tente impedir o uso de seu monograma em obras que a criticam e ao mesmo tempo celebre uma parceria com artistas como OSGEMEOS.
O mais interessante é a maneira como Otavio e Gustavo Pandolfo lidaram com esta questão: o cachê pela obra foi doado para a Casa do Zezinho e para o Graac. A doação é uma atitude tão subversiva quanto as críticas à marca espalhadas em muros pelo mundo.
Com a visibilidade e divulgação automática de tudo que OSGEMEOS fazem, os demais artistas que colaboram com o mercado de luxo estão imediatamente pressionados a doarem seus cachês para causas sociais e humanitárias, o que não deixa de ser um”efeito Robin Hood” e um exemplo para a marca, que poderia doar toda a renda da venda dos lenços para alguma causa.
Como expressou muito bem o artista OZI, “”Para que serve a arte se ela não provoca?“